O “Aliendígena”
Olha! Avista-se lá um ser terreno
E ainda assim ele é sobre, é extra
É sobra, é além, é bicho, é besta
Misto, mestiço, é místico, sereno
Opulenta curva, gênese sideral
Zigoto descarrilado na oferenda
O Orfeu que estribilha na vivenda
Escultura controversa e banal
Penduricalhos perfurantes de sisal
Artes ocultas em mão de escultor
Alquímica lágrima é a tinta do pintor
Que te estampa em capa de jornal
Tapajós é teu batismo e tua querela
Ser da mata, dos quintais da burguesia
Inquisidores no encalço noite e dia
Te caçam feito desafeto de novela
Índio brasiliano nas bandas de além-mar
Puseram fogo nas tendas da razão
Colonizadores de carapuça na mão
Porão olhos acesos em teu Shangri-lá
Inquisidores, raptores, caçadores de fuzil
Todos os ferrolhos vão em teu calcanhar
Teu pescoço vistoso, querem decapitar
E exibir teu eunuco à sociedade civil
Teu desassossego tem causa um tanto vil
Extraterrena existência num olhar delgado
“Aliendígena”, apátrida, eis o teu pecado
Ser natural daquele planeta, dito Brasil.
Carlos Roberto Felix Viana