TREM DA POESIA
O trem de Bandeira
Passa apitando ligeiro a vida inteira
Café com pão café com pão café com pão
Passa devagar, bem devagarzinho
Vendo como a vida é besta
O trem de Drummond, o mineirinho
O trem dos Andrades
Passa, aos solavancos,
Entre piadas, estações e espantos
Passa pela memória e pelo mar
Levando sal, sonhos e lembranças
O trem de Cecília mais leve que o ar
O trem de Vinícius
É todo almofadas e carícias
Entre baladas, sonetos e delícias
Passa carregando nuvens e sol
O trem de Murilo
Deixando unidos pescador e anzol
O trem de Quintana
Canta, canta como passarinho
E vai abrindo gaiolas pelo caminho
É ainda um rabisco, um esboço
O trem de Cabral
Um dissecar de trilhos, um osso
O trem de Leminski
É a psicodelia das palavras
Caleidoscópio, moinhos e espadas