SOB O LUAR

Sinto falta daquelas madrugadas

Em que debilitados ruídos notívagos

Compartilhavam orgias com o silêncio

.

Uma brisa pálida se insinuava pelo ar

Na promiscuidade com os orvalhos

Que ainda se fecundavam

No útero da avizinhada manhã

.

Gemidos, murmúrios e delírios

Se acotovelavam na atmosfera

Numa competição

De inaudíveis orgasmos

.

O uivo solitário de um cão

Denunciava a tristeza do abandono

.

Nuvens seduziam as estrelas,

Por trás dos seus corpos gasosos

.

Passos trôpegos se revezavam

No séquito de ébrios retardatários

.

O torpor parecia se apropriar

De toda a cidade

.

Nada disso, porém, me importava

Eu continuava ali a espreitá-la

Sob o território do seu domínio

.

Silente, inerte, impávido

Esperando o momento oportuno

Em que ela viria sequestrar

O meu melhor olhar.

.

Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 03/10/2019
Código do texto: T6759857
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