SOB O LUAR
Sinto falta daquelas madrugadas
Em que debilitados ruídos notívagos
Compartilhavam orgias com o silêncio
.
Uma brisa pálida se insinuava pelo ar
Na promiscuidade com os orvalhos
Que ainda se fecundavam
No útero da avizinhada manhã
.
Gemidos, murmúrios e delírios
Se acotovelavam na atmosfera
Numa competição
De inaudíveis orgasmos
.
O uivo solitário de um cão
Denunciava a tristeza do abandono
.
Nuvens seduziam as estrelas,
Por trás dos seus corpos gasosos
.
Passos trôpegos se revezavam
No séquito de ébrios retardatários
.
O torpor parecia se apropriar
De toda a cidade
.
Nada disso, porém, me importava
Eu continuava ali a espreitá-la
Sob o território do seu domínio
.
Silente, inerte, impávido
Esperando o momento oportuno
Em que ela viria sequestrar
O meu melhor olhar.
.
Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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