PERTINÁCIA
Ouvi o vento sussurrar
Para alguma tempestade
Que traria o azedume do mar
Nas procelas
Que sacodem
O meu barco.
.
E nas mazelas,
Quando os odores
Não me acodem
E os amores
Não me acorrem
Eu vou e os abarco
Do meu jeito de amar,
De sentir e de cheirar.
.
Para o mar revolto
Eu sempre volto
Pois não há de se provar o amor
Tampouco suportar todo o odor
Em todas a suas audácias
E nas minhas contumácias
Sem testar primeiro
O valor do marinheiro.
.
A ave voa em sua arribação
E vou com ela na embarcação
Ao sabor da doce viração
Ao temor do duro furacão.
E assim desafio o destino
Uns dias com o meu tino
Em outros com desatino
Uns dias eu me oprimo
Noutros sou eu que opino.
.
Entre os naufrágios
Os maus presságios
E todos os deságios
Não pago o pedágio!
.
Nas horas mais incertas do dia
Vou com o que me alimenta
Enfrentando a tormenta
E a toda atormentação.
.
Mas não vou sozinho
Tenho como companhia
Em todo o caminho
A minha fiel obstinação.
.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
(Direitos reservados. Lei 9.610/98)