Morre Roberto Leal
Roberto Leal faleceu dia 15 de setembro. Esta morte pegou de surpresa toda a comunidade portuguesa residente no Brasil, poucos sabiam que estava doente, Antonio Joaquim Fernandes, para Vale da Porca, uma aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Braga, Roberto Leal para o Brasil e Portugal inteiro.
Em 1962, junto com seus pais e nove irmãos, imigraram para o Brasil.
Aqui seguiu junto com a família a saga do imigrante:
Tempos difíceis de adaptação, qualquer emprego é válido, uma tábua de salvação mesmo. Assim o nosso Roberto Leal passou pela fase de auxiliar de sapateiro, vendedor de doces nas feiras, enfim, o que aparecia para garantir a sobrevivência. Felizes os que ultrapassam estes tempos difíceis sem ficarem marcados pela triste sorte.
Acho que Roberto Leal se apegou à musica para driblar a vida. Cada um foi encontrando a seu modo mesmo alguma coisa a que se agarrar para não cair numa vida pior do que a que deixou para trás. No meu caso, dizia para mim mesmo, pelo menos aqui tenho esperança de poder estudar. Com ele a música deve ter sido a válvula de escape para não se deixar ir ao chão.
E ia cantando, e talvez já rascunhando alguma coisa, um arremesso de compositor. E isto, talvez nas festinhas da família, dos amigos ia mostrando o seu carisma, a sua alegria que não deixou morrer, animava-se e animava a turma. Assim, do quase nada, começaram a surgir algumas letras. Era tempo de Jovem guarda, as tardes de domingo deviam ser para Roberto Leal, muito mais do que para mim: era sonho, era vontade de ser como eles.
Na roda dos amigos ia ensaiando músicas suas e danças bem alegres, bem ao estilo português, com aquela pitada da alegria da jovem Guarda. Até que um dia criou coragem e lá vai Roberto Leal se inscrever no programa do Chacrinha, Chacrinha era um animador de programas de televisão nato, seu programa no Rio de Janeiro era um sucesso só, ninguém perdia o seu programa. Em meio a toda aquela bagunça. Alguém lembra como começava? Ele chegava com uma peça de bacalhau, e chegava dizendo, vocês querem BACALHAU? E jogava para a platéia a esmo. No meio daquela confusão toda, era confusão premeditada, aquilo era o charme, o que fazia o espetáculo ser o que era, tinha lá no meio de tudo aquilo um momento engraçado: Chacrinha com sua barriga bem proeminente e sua buzina, “A Buzina do Chacrinha” . Ali apresentava jovens que queriam ser cantores. Quem ia mal, levava umas buzinadas e saía correndo, quem passava pela buzina do Chacrinha, voltava, para ver se era bom mesmo. E não é que o nosso Roberto Leal passou por todas! A buzina nunca tocou. Pronto, sucesso garantido, presença aplaudida nos programas do Chacrinha, agora já o apresentava como Roberto Leal, e lá vinha, “ Bate o pé” “ Arrebita” e “ viras” de não acabar mais, onde chegava era só alegria. Até o Roberto Carlos o convidou para animar as tardes da jovem guarda de domingo. Pronto, o sucesso de Roberto Leal estava garantido, confirmado, nós imigrantes como ele, ao som de suas músicas bem alegres íamos ganhando coragem, tentando fazer da nossa vida uma vida assim bonita. Passou a ser o nosso ídolo. Uma imagem bonita de vencedor mesmo. Todos queríamos seguir na nossa própria vocação porque ele nos mostrou claramente que cada um é para o que nasce, ele nasceu para cantar, para dançar, um ouvido excepcional para a música, era o seu dom. Quem tem a felicidade de não se desviar do seu maior patrimônio, que é esse dom, que mais formalmente se chama vocação. A vida torna-se mais leve, mais alegre, faz o que gosta, eu queria ser professora, quando assumi essa cadeira, ouvia muitas reclamações das colegas professoras como eu, enquanto eu me sentia bem dentro da sala de aula e contornava os problemas de uma forma mais leve, até bem mais alegre. Assim fazia Roberto Leal, era só alegria. Fazia sucesso, ganhava dinheiro, casou-se, vieram os filhos, depois deu de sonhar de voltar a Portugal, claro que ia dar certo, o dinheiro compra tudo, mas bem percebia que era por ter dinheiro mesmo, ainda arriscou entrar para a vida política, mas ali encontrou muito mais resistência e ele já não estava para aguentar resistências daquele tamanho.
Passou a viver da música em Portugal e no Brasil, sempre dizendo que no Brasil era português e em Portugal, brasileiro. Aquela alma dividida típica do nosso imigrante. Temos que nos acostumar com isso, e se possível fazer disso um trampolim para ir mais longe. Foi o que ele fez e muitos de nós fizemos também.
Mas a vida é mesmo curta e prega-nos peças como esta: um vermelhão na face, a princípio culpou o sol, que as pomadas não estavam resultando, depois aquela vermelhidão a se espalhar, uma ferida, a princípio pequena não lhe tiraram a alegria, dizia que não era nada, mas era, e talvez tenha dado conta tarde demais. Era cancro e já se espalhava pelo corpo, já chegava ao rim. O cancro tem cura, mas tem que ser detectado muito rápido, muito cedo, nas primeiras manifestações, se não houver esse cuidado, pode ser tarde demais. Com ele aconteceu isso mesmo, tarde demais!...
Roberto Leal, nós que por aqui continuamos ficamos por aqui a rezar para que estejas no céu a cantar o teu “ Bate o Pé” e “Arrebita” para os que te amaram muito, foram teus fãs e como tu já partiram.
Lita Moniz
Roberto Leal faleceu dia 15 de setembro. Esta morte pegou de surpresa toda a comunidade portuguesa residente no Brasil, poucos sabiam que estava doente, Antonio Joaquim Fernandes, para Vale da Porca, uma aldeia do concelho de Macedo de Cavaleiros, distrito de Braga, Roberto Leal para o Brasil e Portugal inteiro.
Em 1962, junto com seus pais e nove irmãos, imigraram para o Brasil.
Aqui seguiu junto com a família a saga do imigrante:
Tempos difíceis de adaptação, qualquer emprego é válido, uma tábua de salvação mesmo. Assim o nosso Roberto Leal passou pela fase de auxiliar de sapateiro, vendedor de doces nas feiras, enfim, o que aparecia para garantir a sobrevivência. Felizes os que ultrapassam estes tempos difíceis sem ficarem marcados pela triste sorte.
Acho que Roberto Leal se apegou à musica para driblar a vida. Cada um foi encontrando a seu modo mesmo alguma coisa a que se agarrar para não cair numa vida pior do que a que deixou para trás. No meu caso, dizia para mim mesmo, pelo menos aqui tenho esperança de poder estudar. Com ele a música deve ter sido a válvula de escape para não se deixar ir ao chão.
E ia cantando, e talvez já rascunhando alguma coisa, um arremesso de compositor. E isto, talvez nas festinhas da família, dos amigos ia mostrando o seu carisma, a sua alegria que não deixou morrer, animava-se e animava a turma. Assim, do quase nada, começaram a surgir algumas letras. Era tempo de Jovem guarda, as tardes de domingo deviam ser para Roberto Leal, muito mais do que para mim: era sonho, era vontade de ser como eles.
Na roda dos amigos ia ensaiando músicas suas e danças bem alegres, bem ao estilo português, com aquela pitada da alegria da jovem Guarda. Até que um dia criou coragem e lá vai Roberto Leal se inscrever no programa do Chacrinha, Chacrinha era um animador de programas de televisão nato, seu programa no Rio de Janeiro era um sucesso só, ninguém perdia o seu programa. Em meio a toda aquela bagunça. Alguém lembra como começava? Ele chegava com uma peça de bacalhau, e chegava dizendo, vocês querem BACALHAU? E jogava para a platéia a esmo. No meio daquela confusão toda, era confusão premeditada, aquilo era o charme, o que fazia o espetáculo ser o que era, tinha lá no meio de tudo aquilo um momento engraçado: Chacrinha com sua barriga bem proeminente e sua buzina, “A Buzina do Chacrinha” . Ali apresentava jovens que queriam ser cantores. Quem ia mal, levava umas buzinadas e saía correndo, quem passava pela buzina do Chacrinha, voltava, para ver se era bom mesmo. E não é que o nosso Roberto Leal passou por todas! A buzina nunca tocou. Pronto, sucesso garantido, presença aplaudida nos programas do Chacrinha, agora já o apresentava como Roberto Leal, e lá vinha, “ Bate o pé” “ Arrebita” e “ viras” de não acabar mais, onde chegava era só alegria. Até o Roberto Carlos o convidou para animar as tardes da jovem guarda de domingo. Pronto, o sucesso de Roberto Leal estava garantido, confirmado, nós imigrantes como ele, ao som de suas músicas bem alegres íamos ganhando coragem, tentando fazer da nossa vida uma vida assim bonita. Passou a ser o nosso ídolo. Uma imagem bonita de vencedor mesmo. Todos queríamos seguir na nossa própria vocação porque ele nos mostrou claramente que cada um é para o que nasce, ele nasceu para cantar, para dançar, um ouvido excepcional para a música, era o seu dom. Quem tem a felicidade de não se desviar do seu maior patrimônio, que é esse dom, que mais formalmente se chama vocação. A vida torna-se mais leve, mais alegre, faz o que gosta, eu queria ser professora, quando assumi essa cadeira, ouvia muitas reclamações das colegas professoras como eu, enquanto eu me sentia bem dentro da sala de aula e contornava os problemas de uma forma mais leve, até bem mais alegre. Assim fazia Roberto Leal, era só alegria. Fazia sucesso, ganhava dinheiro, casou-se, vieram os filhos, depois deu de sonhar de voltar a Portugal, claro que ia dar certo, o dinheiro compra tudo, mas bem percebia que era por ter dinheiro mesmo, ainda arriscou entrar para a vida política, mas ali encontrou muito mais resistência e ele já não estava para aguentar resistências daquele tamanho.
Passou a viver da música em Portugal e no Brasil, sempre dizendo que no Brasil era português e em Portugal, brasileiro. Aquela alma dividida típica do nosso imigrante. Temos que nos acostumar com isso, e se possível fazer disso um trampolim para ir mais longe. Foi o que ele fez e muitos de nós fizemos também.
Mas a vida é mesmo curta e prega-nos peças como esta: um vermelhão na face, a princípio culpou o sol, que as pomadas não estavam resultando, depois aquela vermelhidão a se espalhar, uma ferida, a princípio pequena não lhe tiraram a alegria, dizia que não era nada, mas era, e talvez tenha dado conta tarde demais. Era cancro e já se espalhava pelo corpo, já chegava ao rim. O cancro tem cura, mas tem que ser detectado muito rápido, muito cedo, nas primeiras manifestações, se não houver esse cuidado, pode ser tarde demais. Com ele aconteceu isso mesmo, tarde demais!...
Roberto Leal, nós que por aqui continuamos ficamos por aqui a rezar para que estejas no céu a cantar o teu “ Bate o Pé” e “Arrebita” para os que te amaram muito, foram teus fãs e como tu já partiram.
Lita Moniz