DO FILHO QUE EU NÃO TIVE (Eu adotei a poesia)
Não recebi a divina dádiva
De ter tido o esperado filho
De ter tido a amada filha
E de uma forma impávida
Da vida, sem sair do trilho
Segui calado pela trilha
Senti falta da chama que ilumina
As trevas dessa minha solidão
Sofri com a falta deste pequenino
Do meu desejado menino
Da minha sonhada menina
Do sopro de toda a criação
Vendo o meu peito apertado
Triste, sozinho e abandonado
O Criador me deu um recado
Me deixou um nobre legado
Deus me disse, então :
Filho, não se aborreça desse jeito
Tire essa dor do seu peito
Da sua alma e do coração
Te darei um dom especial
Para fazer poesia
Escrevendo todo dia
E fazendo do verso
Por todo o universo
O seu filho imortal
Sei que isso lhe anima
Porque a todos fascina
Fará com todos os leitores
Com o seu versejar
O exercício de sonhar
De chorar
De sorrir
De sentir
Aplacará as suas dores
Fermentará seus amores
Com todas as cores
Do seu lírico pincel
Que colorirá o papel
Essa será sua riqueza
A sua inexaurível mina
O poema tomará por devoção
Te incumbirei desta missão
Na falta da sua prole
Ou algo mais que lhe console
Adotará a poesia como sua menina
E fará dela a sua mais doce sina.
E assim,
Vou preenchendo meu vazio
Tecendo a vida, fio a fio
Em busca dessa minha identidade
Povoando de sonhos a humanidade
Carente de tanto amor
Pois de fantasia também se vive,
E me faz arrefecer a dor
Do filho que eu não tive.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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