Um velho num velho entardecer

Um velho num velho entardecer

Quando o entardecer chega na estrada

quando os horizontes cintilam fogueiras

quando o sol poente chameja vermelho

quando as folhagens aquietam em silêncio

quando passarinhos procuram seus ninhos

quando a brisa sopra uma velha canção

quando os canteiros sem enchem de ocres

quando os sinos se preparam para ecoar

quando toda a vida é mais silenciosa

então o velho senhor se põe a conversar

conversa com o vento e com a ilusão

de ter um bom amigo de tão fiel coração

e conta sua vida e toda sua saudade

rumina as queixas e brada os queixumes

fala baixinho quando o dizer é amargo

quando relembra os seus e suas saudades

quando revive a estrada e suas passagens

quando lacrimeja os segredos guardados

quando chora a dor de tantos adeuses

até que a noite chega trazendo a lua

e naquela face a frágil luz da existência

a lâmpada da vida que já tão calejada

sabe que sua estrada é de curta jornada.

Rangel Alves da Costa

blograngel-sertao.blogspot.com