Um poema de cada vez

Num vazio onde diásporas

Invadiam o cotidiano

Deleitando-se risonha sobre

Almas urbanas.

Vi um homem comendo

Livros,

Meu Deus!

Saboreava cada paroxítona

Como se última fosse.

Ditongos flutuavam,

Hiatos riam alucinados,

Palavras insubordinadas

Dançavam no embalo

Do caos maldito.

Orações complexas

Saltitavam

Por entre frases de protestos.

Não havia pretexto,

Havia contexto reacionário.

Houve boatos

Que o homem havia ficado

louco,

Ao invés de cachaça

Bebia fragmentos de ideias,

Ao invés de cigarros,

Nuvens tóxicas de

pensamentos

inebriavam o ar.

Ao invés de lixo,

Catava letras

Nos lixões da vida

E ofertava

Para pessoas comuns

comerem.

Era um sádico

Um sábio

Um ser ímpar

Em meio a massa

mecanizada

Pela força descomunal do

Senso comum.

Começou a devorar poemas

Um por um, um por dia,

Um livro de cada vez

Pra não perder as vozes.

E cada poema digerido

Percebeu que uma estrela

brilhava no céu.

As palavras não fediam mais

tinham gosto de escândalo

No viés da hipocrisia.

aBel gOnçalves

aBel gOnçalves
Enviado por aBel gOnçalves em 29/06/2019
Código do texto: T6684797
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