Um poema de cada vez
Num vazio onde diásporas
Invadiam o cotidiano
Deleitando-se risonha sobre
Almas urbanas.
Vi um homem comendo
Livros,
Meu Deus!
Saboreava cada paroxítona
Como se última fosse.
Ditongos flutuavam,
Hiatos riam alucinados,
Palavras insubordinadas
Dançavam no embalo
Do caos maldito.
Orações complexas
Saltitavam
Por entre frases de protestos.
Não havia pretexto,
Havia contexto reacionário.
Houve boatos
Que o homem havia ficado
louco,
Ao invés de cachaça
Bebia fragmentos de ideias,
Ao invés de cigarros,
Nuvens tóxicas de
pensamentos
inebriavam o ar.
Ao invés de lixo,
Catava letras
Nos lixões da vida
E ofertava
Para pessoas comuns
comerem.
Era um sádico
Um sábio
Um ser ímpar
Em meio a massa
mecanizada
Pela força descomunal do
Senso comum.
Começou a devorar poemas
Um por um, um por dia,
Um livro de cada vez
Pra não perder as vozes.
E cada poema digerido
Percebeu que uma estrela
brilhava no céu.
As palavras não fediam mais
tinham gosto de escândalo
No viés da hipocrisia.
aBel gOnçalves