ASAS
"Pois que trago a mim comigo" (Sá de Miranda)
não sei por onde vou e nem por que sigo...
Tenho, no avesso da alma ,
Costurada e escondida,
A trilha de outra vida,
Nem tão minha ou acertada,
Tal e qual tarde covarde
penteando os cabelos
Sem imagem no espelho...
Iluminada, a estrada convida
Em promessas amassadas
A um abismo no caminho.
Mas a viagem sem trajeto
Não suporta portão ou porta,
Não sonha com qualquer pedra,
já que rumo e norte não há.
Só há árvores em alas tortas,
Plantadas na rosa dos ventos
Que dissipam as pegadas
Impressas e suspensas no ar.
Retornar?
Mas quem ousara?
Nas costas, como asas paralelas,
Ruflam vazio e medo,
Margaridas amarelas
Acenam os seus segredos.
Então sigo pela rua,
Cada curva enfeitada com urzes
planifica meu degredo.