ASAS

"Pois que trago a mim comigo" (Sá de Miranda)

não sei por onde vou e nem por que sigo...

Tenho, no avesso da alma ,

Costurada e escondida,

A trilha de outra vida,

Nem tão minha ou acertada,

Tal e qual tarde covarde

penteando os cabelos

Sem imagem no espelho...

Iluminada, a estrada convida

Em promessas amassadas

A um abismo no caminho.

Mas a viagem sem trajeto

Não suporta portão ou porta,

Não sonha com qualquer pedra,

já que rumo e norte não há.

Só há árvores em alas tortas,

Plantadas na rosa dos ventos

Que dissipam as pegadas

Impressas e suspensas no ar.

Retornar?

Mas quem ousara?

Nas costas, como asas paralelas,

Ruflam vazio e medo,

Margaridas amarelas

Acenam os seus segredos.

Então sigo pela rua,

Cada curva enfeitada com urzes

planifica meu degredo.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 24/06/2019
Reeditado em 30/06/2019
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