Nuances do amor

Amor

está contido no olhar da criança ao repartir o pão com o mendigo,

escorre no semblante da mulher ao receber o recém-nascido nos braços,

está na face oculta, serena e piedosa do magnífico criador do universo.

Amor

é o que nos une, nos torna tolerantes, talentosos, taciturnos...

Está contido no afago, no apego, no apelo pela resiliência.

Está na cumplicidade para com seu semelhante ao tratá-lo como igual.

Está no desabrochar oculto e perfumado dos lírios do brejo,

está na aorta do amigo que estende a mão sem falsidade.

Amor

é o que nos ultrapassa _,

é a incógnita nas entrelinhas da vida.

Está camuflado nos corações dos soldados que vão para a guerra,

está aguçado no entreolhar do casal de namorados,

está no dia monótono onde o silêncio assovia solidão pelos cômodos mofados das casas,

está impregnado no âmago impressentido da mulher cujo a ausência lhe traz cólera e dor.

Amor

está contido no cordão umbilical das horas_,

nas extremidades sutis dos dias.

Amor é o gigante bondoso_,

quando mundo parece perdido e sombrio

ressurge com ímpeto intransponível pelo alaúde dos instantes

e brota férreo nas credulidades, nas senzalas, no câncer, na aids e no peito de quem está para morrer.

Amor é a visão do cego, as pernas do tetraplégico, o segredo do mágico.

Amor é a cura do adicto, do Severino, do favelado.

Amor é a nuance entre o céu, inferno e a epifania instantânea.

Amor

revela-se no nascimento imperceptível dum rinoceronte, dum coala, dum leão-marinho.

Amor_, é enxergar borboletas azuis que

saem do útero da crisálida e voam pelos pântanos da vida semeando a grandiloquência da paz.

Amor _,

sensatez irrisória, risoto com feijoada.

Renasce no íntimo do homem corrompido pelo ódio,

retoma sempre uma nova canção e ecoa imenso sobre o esplendor das estrelas pondo de joelhos o homem feroz,

pondo em pé o coração ruído,

pondo de castigo um sofrimento momentâneo.

Amor próprio_,

é a bruxaria abstrata que nos devolve o gosto de viver, de reolhar o mundo com paixão e curar a depressão.

Amor coletivo

desinflama o ego dum girassol em um dia de outono sombrio.

Amor é o que nos faz esplêndidos, nos faz suportar a insanidade de viver.

Amor é o elo que tece a leveza de ser homem ou mulher e sorrir toda vez que a vida nos oferece o fracasso.

Amor é a tecnologia mais antiga que torna o ser humano melhor.

aBel gOnçalves

23/06/2019