PORTAS DA SOLIDÃO
Convém falar. É Necessário.
Não vês que acima e abaixo de nós
somos os próprios sequazes
e que é estúpido partilhar o silêncio?
Por quê teus olhos
pedem silenciosamente
pela boca mansa das lágrimas,
quando pedir fere a sensibilidade
de tua magnificência?
Ande! Grite! Ensurdeça as nuvens!
A mansidão delas
irrita a miséria que clama por lutas
e nunca por complacência.
Por quê pensar em noite, quando o sol brilha
através da janela
de tanta mocidade?
Convém viver. É preciso!
Não que a vida seja tudo.
Ela é o móvel e o crime.
Ela existe para dar-nos a liberdade
de dizer - não a verdade,
mas a covardia.
Por que pensar na morte?
Calar é acovardar-se ante a luta.
Morrer é sentir medo do embate.
Erga a cabeça! De olhos abertos
vislumbre o infinito
com a mesma calma
com que se ler
um livro de cabeceiras
na esperança dos sonhos.
Convém sentir que o silêncio é um mito
e que a solidão é necessária, apenas,
para ouvir a voz de nosso próprio Eu
ante a imensidão que espreita nossa sutil passagem