Ensaios
Ensaio nº 1
Lá no céu a ave voa
alta, alta... e airosa,
sabe que a vida é boa
na altura vaporosa.
Nas águas o peixe nada
ágil, ágil... e intenso,
sabe que a vida é negada
fora do mar imenso.
Na terra o homem caminha
alheio, alheio... a tudo,
sabe que a vida é mesquinha
e por isso segue mudo.
Ensaio nº 2
Eu vou seguindo sombrio,
taciturno e sem vontade,
sei que a vida é um fio,
e lhe nego a verdade.
Não penso em desfastio,
levo apenas a saudade,
presa ao negror do pavio
sem chama de alacridade.
Passo à beira do rio
que viu minha mocidade,
e sinto o imenso frio
da ida felicidade.
Ensaio nº 3
Descendo a ladeira sombria
contorcido pelo frio,
um vulto moroso seguia,
como segue lento o rio.
Não sei se vinha ou se ia,
e não sei o que pensava,
só sei que olhava e não via,
o sonho que não sonhava.
Por cima da pele manchada,
roupa amarrotada e suja,
e a cara encarquilhada,
qual fosse infeliz garatuja.
Moroso qual rio lento,
a ladeira ele descia,
e ia bebendo o vento
que seu corpo contorcia.
Ensaio nº 4
Era a ave, era o peixe,
era eu e era o rio,
todos juntos nesse mundo,
cada um no seu lugar,
era o vento, era a água,
e era o outro sombrio,
eu chorava, ele sorria,
doía o seu caminhar.
Eu sorria, ele chorava,
eu olhava e não via,
eu passava, ele passava,
ninguém ousava sonhar,
e a ave, e o peixe,
e o rio que se debatia
entre as pedras que jaziam
sem ao menos se importar.
Ensaio nº 5
Eu vi a ave voando,
eu vi o peixe a nadar,
eu vi o homem passando
e não quis me importar.
Eu vi a morte vivendo,
eu vi o rio a secar,
eu vi o sonho morrendo
seco de tanto chorar.
E o meu coração, que chora
de tristeza e de penar,
não viu a vida ir-se embora,
na ave que ia no ar,
no peixe que ia no mar,
no rio a murmurar,
e no outro eu a passar...
Alzx© Alexandre J de A Gomes
Manhuaçu, Maio 2019