SEDE

O rio toma seu curso:

em cachoeiras,

em calmarias,

em se agitar em pedras brilhantes,

em cantar em turvos caminhos,

em rebrilhar nas escamas cortantes.

Engole o lixo,

vomita fartum no ar,

Abraça redes,

iscas e corpos e açoite,

sustenta a manhã, a tarde e a noite,

Em cada o brilho sem par.

Seus cílios sustentam a vida,

ditada no olho d’água,

traída em cada canto,

em vozes, silêncios e náuseas.

Mas será sempre líquido,

Se esfregando em filtros vários,

Se espremendo nos poros do barro,

de que foi feito o homem,

de que nascem flores e frutos,

e de, quem sabe, a morte,

essa espécie de sorte,

assim bruxa e princesa,

que têm sobre sua mesa

o balanço dessa rede:

água a mitigar a sede

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 23/04/2019
Reeditado em 25/04/2019
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