SEDE
O rio toma seu curso:
em cachoeiras,
em calmarias,
em se agitar em pedras brilhantes,
em cantar em turvos caminhos,
em rebrilhar nas escamas cortantes.
Engole o lixo,
vomita fartum no ar,
Abraça redes,
iscas e corpos e açoite,
sustenta a manhã, a tarde e a noite,
Em cada o brilho sem par.
Seus cílios sustentam a vida,
ditada no olho d’água,
traída em cada canto,
em vozes, silêncios e náuseas.
Mas será sempre líquido,
Se esfregando em filtros vários,
Se espremendo nos poros do barro,
de que foi feito o homem,
de que nascem flores e frutos,
e de, quem sabe, a morte,
essa espécie de sorte,
assim bruxa e princesa,
que têm sobre sua mesa
o balanço dessa rede:
água a mitigar a sede