IMINÊNCIA

Vou conjugando o quase

Na gramática das não realizações

Algo que se situa no limiar

Da eterna inacabada fase

Oculta em invisíveis interseções

Entre o medo e a incapacidade

De tão somente concretizar

O curso de uma temporalidade

Embriagada de lágrimas

Enferrujada nas pátinas

De um inócuo sonhar.

De que vale agora

Toda essa contemporização?

O peso da hora

De inércia, de tanto ócio

Justifica uma falsa aproximação

Pelo retrovisor do relógio?

A realidade desapreça

E muito bem depressa

Pesa-me

Pela inconsciência

Pêsames

Pela incompetência

Inapetência

Pelo alimento

Da sobrevivência

Pelo lamento

Na consciência

A incômoda letargia

Eu não consigo vencer

Apenas me convencer

Nas linhas da poesia

Das formas mais irrealistas

Que me derruba, como onda má!

Tal qual os negligentes surfistas

Que trazem todo sal dos sofistas

Que se evapora no ar e no mar.

 

A evaporação

Leva por ação

Breve

Imberbe

O verbo

Não mais serve

Nem como verve

Nem como servo

Para meu verso

No exercício da flexão verbal

Do pretérito imperfeito

Do presente não indicativo

Do futuro já tão desfeito

Deixo como experiência final

Um triste e doloroso ativo

Que constrói um desabrigo

Que carrego agora comigo

De que toda a tentativa

Na falta da mente ativa

Só me dará, por consequência

Como conveniente clemência

O gosto amargo da iminência.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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17 de janeiro de 2019

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 22/02/2019
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