DAS CERTEZAS INCERTAS

A cidade acordou bem-disposta

Contingência que lhe foi imposta

A ruminar expectativas frágeis

Diluídas em promessas anuais

De estórias bem inimagináveis

Devaneios contidos

Veraneios contados

Nos seus esporádicos jornais

Que de tão periódicos

Impressos em códigos

Em versos e prosas

Em cravos e rosas

Ressoavam retóricas sazonais

A credulidade oscilante

Da população vacilante

Chamava de auspícios

Toda aquela novidade

Outros, poucos,

Moradores de hospícios,

E habitantes das prisões

Não tão loucos,

Ou supostamente vilões

Diziam ser apenas ilusões

Os byronianos sofredores

Com o peso das suas dores

E eternas e inacabadas aflições

Afirmavam que eram desilusões

Os incorrigíveis sonhadores

Com o perfume dos amores

Com o verniz de criança

Denominavam esperança

Mas no prato daquela balança

Que pendia no momento

Que no momento pendia

E que logo se depreendia

De toda e de qualquer dedução

Narrativa, descrição, dissertação

Entendimento que se alcança

Era ao mesmo tempo

De dogma e de dúvida

De crédito e de dívida

Então, toda gente resolveu fecundar

Com as verdades entreabertas

E pelas frestas das portas, penetrar

No útero das certezas incertas.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

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Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 16/02/2019
Código do texto: T6576692
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