DAS CERTEZAS INCERTAS
A cidade acordou bem-disposta
Contingência que lhe foi imposta
A ruminar expectativas frágeis
Diluídas em promessas anuais
De estórias bem inimagináveis
Devaneios contidos
Veraneios contados
Nos seus esporádicos jornais
Que de tão periódicos
Impressos em códigos
Em versos e prosas
Em cravos e rosas
Ressoavam retóricas sazonais
A credulidade oscilante
Da população vacilante
Chamava de auspícios
Toda aquela novidade
Outros, poucos,
Moradores de hospícios,
E habitantes das prisões
Não tão loucos,
Ou supostamente vilões
Diziam ser apenas ilusões
Os byronianos sofredores
Com o peso das suas dores
E eternas e inacabadas aflições
Afirmavam que eram desilusões
Os incorrigíveis sonhadores
Com o perfume dos amores
Com o verniz de criança
Denominavam esperança
Mas no prato daquela balança
Que pendia no momento
Que no momento pendia
E que logo se depreendia
De toda e de qualquer dedução
Narrativa, descrição, dissertação
Entendimento que se alcança
Era ao mesmo tempo
De dogma e de dúvida
De crédito e de dívida
Então, toda gente resolveu fecundar
Com as verdades entreabertas
E pelas frestas das portas, penetrar
No útero das certezas incertas.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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