O PENSAMENTO DA VEZ

Quando penso

crio peças de um mobiliário

- signos

alguns indecifráveis –

pejados de afiados desejos

formas não triviais

de insipientes prazeres

que dilaceram a carne

sangrando-a

esvaindo-a

em uma torrente rubra

rio de culpas

que se disfarçam temerosas

debaixo de vãos de escadas.

O pensamento da vez

é sempre novo

cenário labiríntico

onde penetro atento

palavras desenhadas

em telas imaginárias

feito ideogramas.

Desde sempre

pensei sem identidade

como se não fora eu

o dono das idéias pensadas.

Esse tipo de desencontro

comigo mesmo

fez-me ágil

no decifrar pessoas

e na construção de versos

em folhas de cadernos antigos

amontoados

muitos deles

irremediavelmente perdidos

em infinitas idas e vindas

por lugares inóspitos

e amores mal sucedidos.

Da desunião entre mim

e o que apesar de tudo penso

parto cesáreo de alguma forma de luz

que se mostra em claridade baça

como o vidro bisotado da janela

que do lado de dentro da casa

não me permite ver

o que se passa na rua

- meras sombras em movimento.

- por Hans Gustav Gaus, heterônimo de JL Semeador de Poesias, em 09/10/jan/2016 -