CARPE DIEM

Não espere ser útil fertilizando narcisos

com as substâncias do corpo

decompostas em elementos químicos.

A seiva vinda das raízes poderá não se transformar

em óleo aromático a incensar altares vaidosos

com plantas agradecidas, ardendo ao sol

de uma bela manhã de verão.

Sê útil à vida a respeitar e amar

somente a quem a põe a correr

pelos campos e prados,

plantando e colhendo brotos de narcisos.

A dama caprichosa execra o pérfido,

o fingidor na existência

e que no agora eterno perfila o exército

dos enfastiados pelos arrependimentos

e que fertilizam raízes lamentando o tempo

que tiveram e não colheram as flores

em buquês de oferta às amadas platônicas.

É inescapável o destino de um dia irmanarmo-nos

aos narcisos que irão disputar com as minhocas

os restos de nossos corpos.

Mas antes de irmos, cavemos leiras, joguemos sementes,

reguemos o solo, cuidemos dos tenros caules,

chova ou faça sol.

Somente assim, quando deixarmos de respirar

e ficarmos frios, seremos o pedestal do mais gracioso narciso

a nos honrar em receber seiva de boa cepa

servida de quem soube aproveitar bem cada dia,

deixando muito pouco de gozar a extraordinária

experiência da vida.