A jornada pela chave
Enfrentando a noite que caía,
Numa jornada de início solitária
A aboboda celeste 'inda não estrelada
A saga de um combate acompanhara.
Não se tinha nem bagagem nem comida
Para aqueles que quiserem prosseguir
Na subida rumo à terra prometida,
Cuja estrada lhes dizia não ter fim.
Ó céus, porque um feito tão senil
Indagam o júri da plateia
Já convictos de um trágico final
Como um romance entre um nobre e uma plebeia.
No aterro de uma estrada tão deserta
O próprio pensamento era o que se escutava.
Gemidos de socorro eram a prece mais certa,
Ao envés da deserção que se esperava.
O frio se fizera confidente
Da saudade do aconchego de um lar.
Já dispersos quanto ao rumo do presente,
Na bondade de estranhos decidiram confiar.
Ó terra nunca próxima
E poeira tão densa para respirar!
No bater na única casa que havia, viram
A esperança da chegada se reavivar.
O agasalho recebido contentara,
Mas, a fome, as entranhas devorava
Mesmo chegando ao lugar que aguardava
Os pés ansiosos que outrora os explorara.
O lugar agora oferecia resistência,
Ninguém, nos visitantes, queria confiar,
E quando por impostores foram tomados
Se embrenhado nas trilhas do lugar.
Mata, pedras e cercas
Poderiam lhes derrotar,
Além do escuro, pois não tinham lamparinas.
Só as estrelas o quiseram regalar.
A gruta outrora visitada avistaram
E os dois entraram e ali desenterraram
A chave que vieram procurar
Para o baú de uma herança desfrutar.
Pois até então não tinham sorte,
Nem a suas casas chamavam de lar.
A descoberta feita, honraria possível morte:
Somente deixando o lar puderam lhe amar.