Horas movediças
Sagradas horas nas quais estou imerso,
Perdoai se deixo-me ir a desvontade,
É que imensos vazios escuros me assomam,
E minha alma nem grita,
Nem geme, nem teme... Está morta.
Minha alma está morta,
Como um lago de lágrimas
Frias e esquecidas,
Sem os olhos que as verteram,
Sem os motivos que os fizeram chorar...
Rio das horas sulreais barrocas,
Guarda-me nos teus mais insondáveis porões,
Porque não desejo nenhum ânimo,
Nenhum sonho,
Nenhum palavra,
Nenhum beijo,
Ou promessa...
Horas esquecidas,
De quase infinito tempo,
Horas movediças,
Recebei-me,
Ou ignorai-me,
Que tudo é o mesmo mormaço...