Tudo como dantes...
Tudo como dantes
Tudo como nunca
Parecem espeluncas
Esses quarteis de Abrantes
Tem muita gata latindo e mordendo
E muito, muito cão miando na coxia
As aves não gorjeiam, morrem de afasia
E a negra paralisia toma o rubro flamingo
E tudo como dantes
Tudo como sempre
Nos flancos e na frente
Nas costas do Abrantes
Ora quem dera, quisera o mar virar sertão
Mexeram com a onça sem pinta e sem vara
E o pesticida que cuspiram em nossa cara
São os espinhos que hoje espetam tua mão
E tudo será bendito
Como um dia fora Abrantes
Muita poeira nos imigrantes
E o pobre Cervantes, banido!
Parlamentar de arco flecha grita e pragueja
Militar de flores e ruge sapateia no quartel
Na republiqueta dos paus trançados, menestrel
Cantarola da coxia, nas entrelinhas da peleja
Isto é! Veja como dantes
Que tudo ainda é nada
Posto nesta terra alienada
Fogo nos anais de Abrantes