Tudo como dantes...

Tudo como dantes

Tudo como nunca

Parecem espeluncas

Esses quarteis de Abrantes

Tem muita gata latindo e mordendo

E muito, muito cão miando na coxia

As aves não gorjeiam, morrem de afasia

E a negra paralisia toma o rubro flamingo

E tudo como dantes

Tudo como sempre

Nos flancos e na frente

Nas costas do Abrantes

Ora quem dera, quisera o mar virar sertão

Mexeram com a onça sem pinta e sem vara

E o pesticida que cuspiram em nossa cara

São os espinhos que hoje espetam tua mão

E tudo será bendito

Como um dia fora Abrantes

Muita poeira nos imigrantes

E o pobre Cervantes, banido!

Parlamentar de arco flecha grita e pragueja

Militar de flores e ruge sapateia no quartel

Na republiqueta dos paus trançados, menestrel

Cantarola da coxia, nas entrelinhas da peleja

Isto é! Veja como dantes

Que tudo ainda é nada

Posto nesta terra alienada

Fogo nos anais de Abrantes

CarlosViana
Enviado por CarlosViana em 30/11/2018
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T6515792
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