APÓS A CURVA DO MAR DE TORMENTAS

Há em meus olhos

abrigos e enseadas

portos imaginários

e nunca abordados

erguidos por toscos braços

curtidos em água e sol

alimentados por lendas

mariscos e preamares

firmemente ancorados

em rochas de lava e sal

que desafiam impávidos

as ondas tonitroantes

e os ventos roufenhos

condutores de tempestades.

Há do outro lado do mundo

após a curva do mar de tormentas

uma terra de cores que embriagam

praias sem coordenadas ou rumo

como oásis de um deserto infinito

onde aos finais de tardes

o sol acende fogueiras no horizonte

fazendo o oceano evaporar

e enevoando a visão dos que navegam

enquanto Circe alucinada

canta e baila

em sedução a Ulysses

que amarrado ao mastro de sua nau

implora para que lhe cortem as amarras

para que - atendendo ao chamado de seu desejo

possa se deixar aprisionar. . .

- por Hans Gustav Gaus, almirante Holandês, a serviço de Maurício de Nassau, durante uma tempestade que o fez naufragar próximo à Ilha Inacessível, quando excursionava pelo Atlântico Sul, em 07/11/2018, em regime de total eliminação do espaço-tempo -