Diamante
Entre pedras me criei.
A sepultura mais funda suportei.
As idades fizeram comigo toda sorte de maldades.

A pressão era tamanha.
Tudo que não era meu derreteu.
Espremido até a menor partícula sair, se ir.

De todas as pedras a mais pura.
De tão pura, a mais dura.
Pensei comigo, até que enfim a paz da sepultura

A ganância fez na Terra sua morada.
Não sossegou enquanto não me achou.
Eu sabia, eu sabia, não a conhecia, mas sabia que havia.

A serra elétrica rotatória, ia-me raspar até tirar de mim todo o brilho que eu pudesse dar.
Os raios laser vieram aprimorar o processo de lapidação.

Arrancaram à força toda a luz que havia no meu coração.
Rasparam, cortaram.
Só pararam de raspar quando me tornei uma flor a brilhar.

A ganância ditou a minha sorte.
Sou uma joia trancada num cofre agora.
A pedir aos céus que a minha dona jogue a chave fora.
Lita Moniz