Enxovalhada

    Pela infâmia enxovalhada, maltratada.
  Acusada do que não fiz.
  O fantasma que me rodeava fez de mim o que quis.
  Foi ao inferno buscar a madrasta malvada.

  Entregue à baixa maré, chorando, mas de pé.
 Traída até aos cabelos, olhos tristes, rasos d’água.
 Ridícula de causar dó, tanta mágoa!
 Quase de rastos, agarrada à minha fé.

 A minha alma aflita, diante da madrasta maldita, dá de gritar
 Não olhes, desata a correr, desaparece antes de anoitecer.
 Deixa-os falar, tanto hão de mentir que se hão de calar.

 Cada mentira esconde uma verdade.  Qual será?
 Só sei que é má, chegou para arrasar, quer me matar.
 Vigiar e orar para que essa verdade para bem longe se vá.

                                                            Lita Moniz