Um andar solitário entre as gentes
Um andar solitário entre as gentes
"É um andar solitário entre as gentes"
L.C.
"Vem sentar-te comigo, Lidia..."
F.P.
As coisas que vemos, querida, estão a nos dizer adeus,
são como tudo na vida,
porque o fluir é da natureza,
e a estagnação é uma força van que apenas a exercem aqueles que são verdes como as folhas...
Você sabe, você ver, tudo cai, tudo aparece e desaparece,
exceto o que lembramos, K,
porque o que temos no coração vai conosco mas nao sai de nós, apenas se acumula, e onde estivermos, em qualquer tempo, podemos sempre acessar...
Por isso, o momento tem por função oportunizar a criação da lembrança,
e se você não lembrar, é como não ter vivido, e de fato não viveu,
como a folha desgastada e sem seiva que se soltou e sinuosamente volitou no ar, mas não lembra,
porque não viveu isso, no entanto, eu que nao sou essa folha, tenho mais felicidade desse acontecimento...
Olhemos, ollhemos não para as coisas e paisagens dinâmicas que a matemática descreve e a história conta,
mas para o abismo infinito que começa nos olhos,
e busquemos dentro de cada um de nós esse ser que ali solitário se encontra,
indefinido e puro como uma substância de pôr-do-sol, de amanheceres,
de sons de chuva e risos de velhos e crianças...
Ah, entremos e nos sentemos ao lado desse ser, que de tão próximo, pelo silêncio nos comunica seu Segredo, todas as suas lembranças.
E a sua solidão é a nossa solidão,
um Entendimento das coisas alheio às nossas expressões,
porque Entender é solitarizar-se,
É perceber a própria infinitude,
e que amar é ser inteiro em cada parte,
por um beijo limitar-se...
Esqueçamos isso, que teus olhos não são compreensíveis.
O medo é um grito no escuro, um punhal congelado...
Vamos, K, que agora a noite avança,
que agora minha realidade é mais vasta,
que a taciturnidade se alargou em mim,
em nós,
pois do silêncio emergirá,
como a noite do dia
e as estrelas da escuridão,
essa lembrança de ti destes momentos intensamente vividos,
Lembranças em brasa,
Fazendo da existência toda isto,
Um andar solitário entre as gentes...