O sol à beira mar
Repare:
Assim como um girassol, eu sigo o céu
sempre pra cima a vislumbrar,
a colher cada fagulha de calor instantâneo.
Tenho alumbramentos em memória minha
florescendo pelo jardim ocaso,
Sinto as gotas quentes do silêncio amordaçando
a meninice que não tenho mais.
Tenho o sol assim como Vulcano dentro em mim
a nortear passos meus,
a cauterizar pesadelos.
Não sabes!
Sou um animal noturno.
Sou o que sobrou do outono.
Ah, como o sol, não vivo para outrens,
só vivo para malograr o mundo e
ressuscitar almas gélidas.
Não vês!
Mas sou sombrio,
sou escombros,
Sei ser desumano feito um bicho de pé.
Sigo em frente olhando as frestas,
olhando às pressas o segundo que esmaga,
me olho no amanhã e digo amém.
Pois então,
acredite:
além do céu cinza em um dia de girassóis
entardecendo sobre a vigília de psicopatas,
há sempre uma nascente oculta brotando
água limpa pra gente boa ou ruim.
Entenda_,
todo mundo quer ser dono do mundo.
É bom saber que existe trilhões de galáxias
em órbitas no universo,
oito milhões de possibilidades
para mudar o mundo.
Não vês!
É bom saber que o cheiro de terra molhada é bom,
o cheiro de brisa marítima,
o cheiro de corpos amando-se é divino.
Repare no que repriso:
quem tem a audácia de ser bom
já é um girassol de quinta grandeza.
A liberdade é rara assim como a vida.
a vida é rala,
é frágil feito uma folha.
Seguir girassóis ilusórios é a metafísica
que Deus planta no homem.
Sonho e mistério.
aBel gOnçalves