DIAGNÓSTICO

Meu estado de saúde quebra todas as regras clínicas:

morri bem antes de completar cinquenta anos e mesmo assim resisto à vida, respirando à frente dos feixes de elétrons do velho monitor de TV.

Desde então nenhum vício mais contamina meu corpo.

A última labareda de cigarro apagou-se há muito esmagada em uma dessas ridículas promessas de fim de ano

feitas exatamente para não serem cumpridas, quando se é são.

O álcool já não destila minhas emoções desde o último vexame na festa do escritório após confundir as suculentas tetas da mulher do chefe

com a maçã encrostada na boca tostada do leitãozinho.

Saltaram do menu o grelhado, a feijoada, a liguicinha, o torresmo

e da convivência as noites de biriba, as danças, a cerveja de metro das festas alemãs e o destemperos da noite a procura de mulheres roliças de corpo e vazias de senso.

Para ter as coronárias de um adolescente e posar nos reclames de revigorantes, saltei a linha do horizonte e caí fora do mundo.

Com os vestígios de vida inteligente restados, animo as traquinagens temporãs, por hoje entender:

a dimensão da vida tem as exatas proporções dos erros

cometidos pelos prazeres da mesa e da carne.

Erigutemberg Meneses
Enviado por Erigutemberg Meneses em 30/08/2018
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