DIAGNÓSTICO
Meu estado de saúde quebra todas as regras clínicas:
morri bem antes de completar cinquenta anos e mesmo assim resisto à vida, respirando à frente dos feixes de elétrons do velho monitor de TV.
Desde então nenhum vício mais contamina meu corpo.
A última labareda de cigarro apagou-se há muito esmagada em uma dessas ridículas promessas de fim de ano
feitas exatamente para não serem cumpridas, quando se é são.
O álcool já não destila minhas emoções desde o último vexame na festa do escritório após confundir as suculentas tetas da mulher do chefe
com a maçã encrostada na boca tostada do leitãozinho.
Saltaram do menu o grelhado, a feijoada, a liguicinha, o torresmo
e da convivência as noites de biriba, as danças, a cerveja de metro das festas alemãs e o destemperos da noite a procura de mulheres roliças de corpo e vazias de senso.
Para ter as coronárias de um adolescente e posar nos reclames de revigorantes, saltei a linha do horizonte e caí fora do mundo.
Com os vestígios de vida inteligente restados, animo as traquinagens temporãs, por hoje entender:
a dimensão da vida tem as exatas proporções dos erros
cometidos pelos prazeres da mesa e da carne.