DISTÂNCIA

Estamos distantes.

Há a separar-nos profundos oceanos

de almas inquietas.

Mas se são as altas ondas crespas

que aproximam os grãos de areia

de outros grãos, criando os grandes

rochedos,

haverá, sim, um tempo de encontro

para nós dois.

E quando eu me aproximar de ti

o farei com a devoção do crédulo

que, ajoelhado, entrega suas emoções

aos altares e chora.

E na primeira noite,

apenas, contemplarei teu corpo desnudo,

deixando o pensamento flutuar

sobre a tua pele de seda pálida

adormecida e perfumada.

Na segunda noite,

timidamente, saciarei minha sede

em tua boca de rosa.

E nunca mais os desertos me assombrarão,

se beberei da fonte inesgotável

que mitiga a esperança dos peregrinos

em busca da proteção dos oasis.

Na terceira noite,

serei o engaste das pedras raras

e preciosas cintilates em teu corpo,

possuido sem dominio.

E nele calcinarei o último sopro do desejo

em centelhas vívidas que irrompem

de um vulcão em furia.

E então, seremos etéreos e eternos.

Sairei de mim e tu de ti.

Abandonaremos os casulos

e nos transfiguraremos em um ser único

nascido da imaginação dos deuses,

quando reverenciam

seus proprios deuses e oram.

E nós seremos igualmente eternos.

E divinizados, rezaremos nossas preces

com o fervor silencioso dos missionários

que se desfazem e se reconstroem

na missão de criarem universos.

- Universos paralelos, nossos corpos

transcenderão as dimensões

e se complementarão na estranheza

dos ciclos distantes que se encontram

em perfeita comunhão que nem a

onisciência suprema ousa reconhecer.

Erigutemberg Meneses
Enviado por Erigutemberg Meneses em 10/08/2018
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