DISTÂNCIA
Estamos distantes.
Há a separar-nos profundos oceanos
de almas inquietas.
Mas se são as altas ondas crespas
que aproximam os grãos de areia
de outros grãos, criando os grandes
rochedos,
haverá, sim, um tempo de encontro
para nós dois.
E quando eu me aproximar de ti
o farei com a devoção do crédulo
que, ajoelhado, entrega suas emoções
aos altares e chora.
E na primeira noite,
apenas, contemplarei teu corpo desnudo,
deixando o pensamento flutuar
sobre a tua pele de seda pálida
adormecida e perfumada.
Na segunda noite,
timidamente, saciarei minha sede
em tua boca de rosa.
E nunca mais os desertos me assombrarão,
se beberei da fonte inesgotável
que mitiga a esperança dos peregrinos
em busca da proteção dos oasis.
Na terceira noite,
serei o engaste das pedras raras
e preciosas cintilates em teu corpo,
possuido sem dominio.
E nele calcinarei o último sopro do desejo
em centelhas vívidas que irrompem
de um vulcão em furia.
E então, seremos etéreos e eternos.
Sairei de mim e tu de ti.
Abandonaremos os casulos
e nos transfiguraremos em um ser único
nascido da imaginação dos deuses,
quando reverenciam
seus proprios deuses e oram.
E nós seremos igualmente eternos.
E divinizados, rezaremos nossas preces
com o fervor silencioso dos missionários
que se desfazem e se reconstroem
na missão de criarem universos.
- Universos paralelos, nossos corpos
transcenderão as dimensões
e se complementarão na estranheza
dos ciclos distantes que se encontram
em perfeita comunhão que nem a
onisciência suprema ousa reconhecer.