PRIMAVERA SOLITÁRIA

Outra vez veio a primavera.

Carregado de odores e de cores,

outobro encontra-me adormecido.

Hiberno entre os vasos das primeiras flores,

alegrando ramos pálidos e saudosos

daquelas desfolhadas no tempo...

Na manhã morna, afogo-me no ar tépido.

Entre mim e os vivos e os mortos

só mesmo as matinês e os vesperais

dissolvidos no silêncio das ruelas antigas

de cemitérios abandonados.

Não ligo às florações nascendo

por entre pedras desgastadas dos canteiros,

enxergadas pelas frestas das pétalas

sem cor.

Nem sinto gozo com os olhos

perto das bordas do chão em plena tarde.

E à noite, se elevo a vista, apenas,

contemplo nas dobras do céu estrelas

morimbundas a me convidarem

para uma dança no baile do medo.

Velho e só, carrega-me o outono –

a primavera já não cabe em mim...

Erigutemberg Meneses
Enviado por Erigutemberg Meneses em 07/08/2018
Código do texto: T6412052
Classificação de conteúdo: seguro