ASA NEGRA

Vai-te asa negra de vinganças

que por meus pecados me castigas

e que sem piedade me obrigas

a viver apenas de lembranças

Por que esvaziaste a minha taça

deixando-me aqui morta de sede?

por que alento já não me concede

tua asa negra que me enlaça?

Só porque bebi a juventude

a tragos vorazes sem rigor

e me embebedei do seu licor

condenas-me agora à quietude?

Vai-te asa negra do castigo

já que o nada que hoje me ofertas

são emoções vagas e incertas...

Deixa-me sofrer a sós comigo!

Cessa o meu tormento, tua glória

esquece-me ou leva-me contigo

pois já é bastante este castigo

de ser de mim mesma só memória!

(In Antologia “Terra Lusíada”–ed. Abrali – S.Paulo, Brasil Julho 2005)

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 26/10/2005
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