ERA TARDE
Era quase, era quase o final do dia.
Era um nada a fazer para proteger a luz,
que, como mãos,
afastava o atro.
No desacato do canto,
as vozes pesavam as notas
na pauta incauta.
O divino, em acorde contrito,
tocou os homens
que, em transe,
pisavam a terra.
O rio trauteava por perto
sua toada mais doce,
e tudo parecia dançar
em movimentos lentos,
nadando,
em realidade afora,
em direção ao porquê,
ao então,
ao para quê.
Mas as janelas vazadas da tarde
se fecharam
na noite sem lua.