SU (L) FIXO
Su (l) fixo
No reino das palavras,
Vou para as bandas setentrionais.
Lá, nada é reprimido
Há outros carnavais
Tudo é consentido,
Agouro ou sorte
Ou, simplesmente, Norte.
No reino das palavras,
Acima da linha do equador,
Antecipo-me à poesia
Escolho sempre a melhor rima
Para ofertar a minha menina,
E numa retumbante sinfonia
Presentear o meu amor.
No reino das palavras
Os poetas já moram há tempos:
A beber outros ventos
Embriagando-se de flora e fauna,
De fogo e magia.
Chegaram antes dele,
Na investigação da alma,
Freud já dizia.
No reino das palavras
Tudo é móvel, força e energia
Quero estar onde tudo principia
Para que plantar dezembro, novembro ou fevereiro,
Se já tenho dentro mim a raiz do janeiro?
No processo de formação das palavras
No mural do coração, eu afixo
“Não as quero escravas
As quero libertas, por inteiro
Antes das sílabas e das letras: Prefixo.”
Por isso, fujo das zonas meridionais
Lá, nada é tão grande demais
É tédio, atraso, ultimação
Palavras, letras, liras em contenção
Estão presas
E são presas
Da prostração
Rimas inertes, acorrentadas,
Completamente paralisadas.
Embaixo tudo está parado
Uma lúgubre valsa do enfado.
Onde o início
Já é o próprio precipício,
Tudo está “com Sul mado”
Tudo é Sul fixo.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
Novembro/2017