Voo cego
Voo cego
(Os espectros da percepção)
Cavalga velozmente
Segurando as rédeas da imaginação.
Conduzi-as com a sabedoria,
E com os sentidos que a vida lhe consente
Subjuga a escuridão.
Vê pelos olhos do pensar
Um calidoscópio
Um carrossel, circulatório
Explodindo em matizes e cores
Aquarela do seu sonhar.
Se a vida não lhe mostrou o semblante,
Por certo, encontrou outra amante
Nos amores e sabores
De um fino paladar.
Navega no oceano
Das liquefações mais maravilhosas
As lembranças só são vagas
Quando há vagas sobre as vagas
Do líquido tapete plano.
E quando as águas se permitem, orgulhosas,
Transpirarem pelos seus dedos,
Escorre na superfície do tato
Um vórtice de sensações caudalosas,
Como um desejo, um desiderato
De afogar todos seus medos.
O pipilar das gaivotas
É marcador sonoro das ilhotas
Dos ruídos libertários de outrora
A brisa encaminha silenciosa sinfonia
Que serpenteia as cócleas de agora
Como uma onda que das trevas se irradia.
O perfume que exala de todo o (a) mar
É balsamo, refrigério para o olfato
Indelével atestado, de direito e de fato
Que há vida além das instâncias do olhar.
Da percepção pelos odores do vento
Pode-se sentir na vestimenta do tempo
A textura cálida da manhã
Tudo é paz
No ontem, no hoje
E no amanhã
Quieteza e Mansidão,
A grande certeza
É que o olhar do cego
Ultrapassa a natureza
Do desvalido da visão.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves