O poeta humaniza uma rocha
Eu ando entre os dois mundos,
Aqui não existe ponteiros,
Ninguém morre, nem vive,
Qualquer carinho é exagerado,
Qualquer desespero é um silêncio...
Neste ínterim, neste interstício,
Encontrei com aquele que vinha em sentido oposto,
E ele trazia olhos sangrentos,
Um peito arcado de pesos infinitos,
Como a morrer, se pudesse, ele vinha
E trazia consigo escuridão de muitas eras...
Mas, antes do encontro,
Pus-me a pensar
Que tudo é quanto criamos,
E toquei nas rochas com meus versos,
E elas se animaram,
Elas se humanizaram em meio a luz,
Em meio às fulgurações da musa,
Que se deitava comigo,
Que, de olhos fechados me dava seus lábios,
De onde eu bebia de sua saliva sagrada...
E assim, acompanhando nossos movimentos e alquimia
A noite enche com escuridão o ser rochoso que se erguia,
E então,
Para aquele que vinha me anular
Foi apresentado a rocha humanizada,
Que o envolveu,
E dali,
Novos caminhos se fizeram entre a treva e a luz...