Fantasmas

Não me peça para revolver antigos sentimentos

O transbordamento da dor não cabe

Em meu estoque de lágrimas.

Nem tampouco solicite

Descoser as chagas

Embuçadas pelas cicatrizes.

Deixe-as inertes

No escondedouro do esquecimento forçado

Elas hibernam nas côdeas e bolores do tempo.

Não queira que eu

Vasculhe os escombros

Para no meio de esconsos

Encontrar as perdas

Que as pedras

Do coração ainda não conseguiram sepultar.

É melhor deixar tudo como está.

O incerto flerta com o incesto.

E entre a esperança e a saudade

Reside o medo.

O presente anestesiou o passado

A anamnese que restou

Da insofrível despedida

Ainda estertora sob a ferida.

E busca nas insídias da fraqueza

Uma oportunidade de ressurreição.

Minha alma padece das cruéis batalhas

E da lembrança amarga do butim

Que levastes no último adeus.

Algo que parece não ter fim

O meu corpo ouve com certeza

Dentro da carne lancinada por navalhas

Ecos ressonantes da irrisão.

Por isso, necessito silenciar

O peito

Pois ainda entreaberto

Pode permitir, decerto

Um leito

Para o fantasma assombrar

E a mim poder soçobrar.

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© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

07 de maio de 2018

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 18/05/2018
Reeditado em 25/06/2018
Código do texto: T6339456
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