Caturra
Quantos amanhãs vieram
Deitar ao pôr do sol de ontem renascente,
Quantas luas cruzaram céu interestelar
Sem nos vir aqui,
Nessa dimensão oblíqua,
Quantos enigmas visitaram-nos,
Quantos uivos de lobos solitários,
Quanta rasga mortalha
Assustaram sono na boca da noite,
Quantos mil milhões/seres povoaram terra,
Quantos nascem sem custódia à vida,
Quantas equações indefinidas,
Quantos buracos tridimensionais/via láctea,
Quantos embriões quânticos ainda por vir,
Quantas noites ímpares sob acalanto/quimera,
Quantos hiatos são precisos para que haja
Conserto para humanidade,
Quantos deuses e deusas,
Quantos sóis nasceram/definharam sozinhos,
Quantas árvores/animais degolados
Por se ter fome/Por ser ambicioso,
Quantos campos eletromagnéticos/Gravitacionais,
Presos na matéria/antimatéria,
Quanta cruzada meu Deus!
Não somos anacrônicos. É fato,
Quantos terremotos assustaram a terra,
Quantas erupções a tino para acordar o dia,
Quantos conflitos armados presunçosos
Extirparam egos,
Quantos Holocaustos são precisos
Para se tomar juízo,
Quantas cápsulas de "crakoína" amortecendo
A retina, para suportar rotinas,
Quantos cérebros notáveis no sótão de nós Mesmos,
Quantas invenções surpreendentes,
Quantos homens raros,
Quantos rios rasos doravante,
Quantos mares secos sem fim,
Quantas rotas ríspidas,
Quantas dores no céu dos seus ombros,
Quanta esperança plantada no sertão
À luz de pirilampos,
Quanta boca vazia sem afeto,
Quanto amor oculto nas rés da modernidade,
Quanto tempo dura um minuto alegre?
Quanto tempo leva o segundo que não fere?
Como dizer até mais —,
Tudo que temos é mínimo minuto sangrado,
Nas mãos sempre um adeus,
Uma combinação incessante de átomos/
Memórias e arrependimentos que se oxidam, e
São devolvidos ao espaço/tempo.
aBel gOnçalves