Direitos do homem
Todo homem tem direito de pintar
Uma poesia nos muros da cidade.
Todo homem tem direito
De grafitar na mansão rica a criança
Preta com fome.
Todo homem tem direito
De entrar em parafusos
E parafusar um presidente no muro.
Todo homem tem direito
Ao livro,
Ao ar livre,
Ao livre arbítrio.
Todo homem tem direito a terra,
As árvores, a sonhar com um pedaço de chão
À beira da estrada.
Todo homem tem direito de ser iminente,
De estar em eminência,
E ressurgir das cinzas toda vez que a vida
For madrasta.
Todo homem tem direito a desenhar
Seu caminho mesmo que afogado
Sobre o esboço
De uma nação fracassada.
Todo homem tem direito de cavar utopia
No escombro de qualquer favela.
Todo homem tem direito de "alegrisonhar"
Na ruína do dia,
De lacrimejar poesia no sarau do bar,
De brindar a vida,
De deitar com a morte,
De plainar afagos e acordar aflito,
De ser moribundo e desejar infinitos.
Todo homem tem direito
A morder, a roer o osso, a ruir o erro, a rezar,
A fisgar o peixe, a ser esfinge,
Chupar a fruta e colher o fruto,
Dar murro em ponta de facas,
E sobretudo ser asas e abraçar o finito.
Todo homem tem direito de
Atirar no pé, ser rocha e granizo,
Pular o morro e manifestar-se medonho
Sobre a beira de um precipício.
Todo homem tem direito de ser juiz sujeito ativo
Da oração.
— Nunca ser subordinado!
Todo homem tem direito de — ser.
E ser já é
Todo sujeito indefinido.
Todo homem tem direito a ser a metáfora
Que quiser.
Todo homem tem direito de inventar seu Deus,
De reinventar a verdade,
E desiventar o que ele quiser.
aBel gOnçalves