A primavera de Karla
Na vez primeira que sangrou
A vergonha escorreu pelos olhos.
Preciso foi um balde e meio
Para apanhar o sangue que
Saltou entre as rochas do
Corpo de Karla.
A tia passiva
Limpou o desespero com
Sorriso afável
A dizer:
Calma Karla.
A criança foi embora.
A criança brincou em pânico
No olhar da menina
Sem rumo.
Cuidado onde pisa agora.
_ Aconselhou a tia.
Ela se penteou no espelho da vida —,
Se rasgou a chorar.
Gastou horas
Admirando as silhuetas do corpo
Refletida nas águas
Bravias do rio tempo.
Despediu-se da última boneca
Igual a como se vai a um funeral.
Karla com medo estava do mundo.
Corpo inteiro pedia pra ser explorado.
Sobre pensamentos indecisos debruçou
Os sonhos
E adormeceu
Esperando o evangelho dos dias
Traçar seu novo destino.
aBel gOnçalves