O néctar da cumplicidade
Eu disse a minha esposa:
_vocês são prioridade.
Ela retrucou!
_somos o que vem depois dos vícios
que você precisa se livrar.
Comecei então arrumar as cousas,
Precisava urgente me libertar
do vício de fazer poesia.
Do vício triste de desenhar girassóis
nas noites norueguesas do sul de São Paulo.
Joguei fora as manias de morder os dentes,
o modo distraído de fazer careta,
joguei o meu precioso silêncio
no vazio eterno da falácia,
joguei roupa, nariz de palhaço,
fotografias, pen drive, smartphone,
um litro e meio de aguardente,
joguei meus discos de rocks rurais,
joguei trinta e cinco cigarros sobre o rio
e, trinta e três vontades pecaminosas.
Ela tinha total razão.
Aqui jaz um bom marido, a partir de agora.
_Faxina feita.
Tudo em ordem.
Dirigi-me ao espelho
e lá estava um cadáver andarilho
sem identidade, sem alma, sem história, sem defeitos.
Um homem sem conflitos, não tem onde se equilibrar.
_, Eu tive que deixar de ser quem sou,
para ser o homem dos sonhos de uma mulher.
aBel gOnçalves