Coisa com coisa
(Para todos aqueles de quem ninguém lembra)
A tristeza é permanente.
A sombra é permanente.
É permanente a dor e a agonia.
O sol não ilumina essas trevas,
Nem o amor pode aqui entrar.
Quem foi se uniu à névoa densa,
E também as arvores e o caminho
Se apagaram nessa neblina sufocante...
Nada, nada, não há nada cantando,
Nem um ruído na porta,
Nem a janela balança,
Nem o grilo, nem os cães...
Neste momento a eternidade é maciça,
E o tempo é um bloco suspenso,
De fora olhos em fogo se esfriam,
E não aparece mão nem voz de anjo
Que pare navalha, a navalha, a navalha imaterial
Que dilacera as almas,
Que fatia em desespero os rictos emergidos nas faces,
O tremor nos nervos, na dissolução das coisas, dos laços...
A tristeza recria tudo,
Tudo mudou,
Tudo mofou,
Tudo sagrando para sempre negro...
Não existe noite,
Não existe o ontem,
Não existe nem existirá nada...
O esgotos estão sem insetos,
As feridas sem dor não lembram da morte...
Não, os mortos não querem saber,
Apenas um imenso vazio calafriento é ouvindo,
Mas ele não diz nada, coisa com coisa:
Já passou, já passou...
Não vai passar nunca...