Dizem:
Reinvente a vida.
Ora, reinventar o que?
As mesmas ondas nos corais
Os mesmos barcos lá no cais
A mesma lua dos ancestrais
A mesma solidão dos meus ais
... Nada há de novo
Nem nunca haverá.
Jamais!
Somos a constância dos ponteiros
Tic tac
Tic tac
Tic tac.
Nem a poesia
minha una alegria
é sem igual.
Fastio dos dias
Míseras utopias
Quimeras vadias!
_ E dize-me
Reinventa a vida?!
Reinvente-a você!
Eu não quero inventar,
muito menos recriar nada!
Deixa-me aqui sentada
Nessa louca madrugada
Injuriada
Entediada
Eu,
que nem durmo,
menos ainda
sonho,
vou fazer o que,
além de contar com o azar?!
( Porque com a sorte, já não dá)
E vê se do marasmo
saio
ao menos pelo acaso
da morte.
Já que da vida é fastio,
um funeral de fino brio,
com cachaça,
Noel e Toquinho,
seria, sem arrepio,
uma bela guarida
para reinventar
a vida.
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