OCASO
Coisa estranha o fim da tarde!
Agora, demorada,
a noite se enfeita de recusa.
"Não me farei", diz esnobe.
"Adie seus sonhos noturnos
para quando eu vier,
se vier eu, escura e misteriosa."
Não me curvo
e encaro a luz estrangeira da hora
inebriante de nada.
Se houver estrela,
darei de ombros.
Se houver murmúrio,
farei ouvidos moucos.
E esperarei um pouco
para gargalhar
na tarde surda
e escura.
O poder olhará, no viés,
meu sonho liso,
agudo e ferido de engano,
que espera,
indiferente,
que meu estar
nada fira.
Hei de rezar, orar,
salmos cantar,
para meu ser
encarar a linha curva,
mentirosa reta
de esperar.