DEVER

Tive um dever a cumprir

e, caprichado,

foi sendo na vida tecido,

no ponto a ponto desenhado,

nas agruras dos dias torcido.

Na neve imaginada,

no calor cru ingerido,

na água salobra curtido,

no fim de do dia urdido,

o dever foi-se fazendo

um caminho sem sentido.

Coado o tempo pedido,

cozinhadas as gorduras,

no cheiro das carnes cortadas,

a linha reta de agruras.

O ponto último fura o pano

e lhe arremata a coragem

de viver só procurando

a realeza da imagem.

Tudo vida, tudo lida,

tudo suor, tudo rosa,

tudo interrogar contínuo,

tudo poesia, tudo prosa.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 03/01/2018
Reeditado em 06/03/2020
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