DEVER
Tive um dever a cumprir
e, caprichado,
foi sendo na vida tecido,
no ponto a ponto desenhado,
nas agruras dos dias torcido.
Na neve imaginada,
no calor cru ingerido,
na água salobra curtido,
no fim de do dia urdido,
o dever foi-se fazendo
um caminho sem sentido.
Coado o tempo pedido,
cozinhadas as gorduras,
no cheiro das carnes cortadas,
a linha reta de agruras.
O ponto último fura o pano
e lhe arremata a coragem
de viver só procurando
a realeza da imagem.
Tudo vida, tudo lida,
tudo suor, tudo rosa,
tudo interrogar contínuo,
tudo poesia, tudo prosa.