Masoquismo poético

Ser é doer,

diz o analista

ao masoquista

que já avista

a dor chegando.

O mundo é dor:

Dor de mãe

Dor de filho

Dor de alegria

Que do finito

e do infinito de dor

Fica, não passa

E o amante se ausenta

Solidão

Doendo ainda.

Dor de prazer

em sentir dor

Indiferença

que acalenta

e excita

pela carência

de gozo e dor

pois um e outro

são o anseio

inconsciente

ou não

a que aspira

o masoquista.

Dor de poeta

que busca a palavra exata

e geme sozinho

madrugada fria

Olhando em torno

grita, baixinho

amordaçado

prazer dobrado

do poema

que é enfim

dominado

Dor de amor

que quer e não quer

sangra e ri

no vermelho da flor

Estranho

Tanta dor

Tanto sofrer

Êxtase de

prazer.

Dor doente

Dor que sente

Quem perdeu

Dor, beijo, mordida

Na maldição da vida

E o masoquista

sonha

o amor perfeito

Com o olho vendado

Com o punho amarrado

Que é ser

na essência,

a coragem

de ser

masoquista.

Ser é doer.

A adorada concorda

Dócil concorda.

Chora de alegria

Quando o dente

lhe crava a carne

Lhe morde a corda

espalma a cerne

Ardente

Dormente

Orgasmático...

E ela

sofre poesia

Dor é o máximo

de entrega

em

alegria

de sentir prazer

pelo júbilo

que ele sente

em provocar agonia.

E a noite corre

mais rápido do que

ela quer

Sofreguidão

Grito no clarão do quarto

Exposição

Humilhação

Gozo

Repouso

então.

E a dor acorda

a moça

Plena e feliz

no seu sofrer...

Quem sofre

A dor da vida

Tem toda a vida

Pra se doer.

Elisa Salles

( Direitos autorais reservados)

Elisa Salles ( Elisa Flor)
Enviado por Elisa Salles ( Elisa Flor) em 20/12/2017
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