Sobre noites e manhãs

Sobre noites e manhãs

Deitei na minha rede de toda noite

e então fiquei pensando e pensando

tirei um punhal abrasado do meu peito

apaguei um velho caderno de saudades

uma lágrima quis insistir em aparecer

e deixei que ela molhasse todo o travesseiro

lavei nas pedras da noite toda a dor sentida

e toda mágoa e angústia ainda aguardadas

quando meu último soluço silenciou

já não havia gatos miando o breu da escuridão

ainda assim me levantei e peguei o caderno

para tentar uma poesia talvez de renascimento

e então escrevi que havia um menino

que perdeu seu bola e foi brincar com a lua

e nunca mais se iludiu com as coisas terrenas

nem com bolas que somem nem pessoas vazias

e depois disso quis também todo o céu estrelado

pois sabia que o seu lugar era além do reles chão.

Rangel Alves da Costa

blograngel-sertao.blogspot.com