DESEJO EM DOBRO

Encolha.

Solte o ar

Dobre pernas

Dobre braços

Dedos

Pescoço

Língua.

Encolha

Um pouco

Mais

Libere o ar

Se lhe resta.

Dobre o dorso

A coluna

Os pulmões

As costelas

Dobre o prazo

De quem

Desatento lhe

Espera.

Encoste-se a

Um canto

Despreze sons

O ar que

Desloca

Coloca o passado

À frente

Dos bois.

Quem sabe

O mundo lhe

Encontra

Quem sabe

Todo mundo se

Foi.

Sobrará um

Amigo

Sem

Peito

No leito de

Quem lhe chora

Por amor.

Dor crônica

De cabeceira

Poesia

Que navalha

O punho

Rascunho

De uma velha

Biografia

Inventada

Para ser tão

Coerente.

Dobre as unhas

Dobre os dentes

Cabelos

A ponta do nariz

Ou da orelha

Dobre

Nós

Dois

Dobre a esquina

Dobre a colcha

De retalhos

Dos fatos

Que você

Nem ninguém

Viveu.

Manja

A filosofia

Na boca

Do Orfeu?

Saca a vã

Sabedoria

Das palavras

De quem lhe

Deve mas

Jura que nunca

Prometeu?

Tira linha de

Conduta

Desfruta do

Desejo que

Não é seu.

Cobre os versos

Lantejoula

Pinta a alma

Agora doura

Fraque

Cassa

Paletó

Tenha dó

Da criatura

Que nunca

Berra

E nunca atura

Itinerários

Fuso-horários

E a quem

Erra.

Aparências

Não

Revelam

Segredos.

Dobre

O medo

Dobre

O sonho

Dobre

O desamor

Que lhe

Proponho

Mas quero

Ver é

Dobrar

A saudade

Que lhe

Ponho.

Dobrar-se

É

Ater-se

Com o

Avesso

Saber

Do

Oposto

Da gente

Não tem

Preço.

A apresentadora

Do

Telejornal

É tão

Bonita.

Ela precisa

Ser bonita.

Senão

É notícia

Sem adereço.

O endereço

Dela

Eu não tenho

Falo do endereço

Da notícia!

A cobiça

Da cobiça

É estar

Por

Dentro.

Percebe-me

O tom

Da ironia?

Carente

Nem sempre

Alivia

Pega pesado

Persegue

Gruda, acumula,

Raramente

Consegue.

Aí insiste

E está

Sempre

Carente.

Quem mente

Conta

A versão

De outra

Gente.

Você que

Só me

Olha

Por dentro

Pra não

Ver meu

Coração,

Oh, coração...

Se acaso estou

Confuso

Eu só considero

Abuso

Se nos vier

O arrependimento

Então.

A voz

Que

Delata

Heroifica.

Contradição.

O tiro

Que

Mata

Redime.

Contradição.

O som

Que

Afasta

Ensurdece.

Contradição.

O homem

Está

Sujo.

E perdeu

A correnteza

Da força

Da água

Do tanque

Do riacho

Da pedra

Da beira

Do mar.

Bandido

Bom

É bandido

Amigo

Ajoelha

Na margem

Da mesa

Do bar

Reza conosco

Ora por nós

E banca

A birita

No fim

Das contas

Antes amigo

A ser inimigo.

Problema

É o

Bandido

Dos

Outros.

Você confia

Em seu deputado?

Você fia o papo

De seu senador?

Quem legisla

Em sua causa?

Que causa

Arranca o seu suor?

A febre dos dias

Antissalicílica

Não haja aspirina

Nem mesmo

Arnica

Verão anda gélido

Inverno calor

E você não me

Esquece

A sua prece

O meu andor.

Pérfido.

Caso eu não

Faça

O que deseja

Você

Sou então

Insidioso

Useiro

Calamitoso

Pérfido.

A imagem

No retrato

É uma

Sentença.

Não pisque

Não imite

Não desista

Da presença.

Poesia

Musicada

É

Uma

Chatice.

Grande

A

Melodia

Nasce

Inscrita.

Por

Palavras

Gravadas

Em nosso

Instinto

De

Artista.

Pacifistas

São

Tão

Belicosos.

Ativistas

Pela

Ecologia

Não

Dispensam

Uma gorda

Fritura.

Seja da boca

Seja do asco

Faça arco

Prescrito

Por Zeus

Em nossa

Esperança

Retilínea.

A faísca

Do raio

Que ofusca

Os olhos

Acima

Da nuca

Não

Amedronta

O equilibrista.

Enquanto

Você se dobra

Para

Entender

O fim

Que vai dar

Dobrei

A sua

Impaciência

Coloquei

Reticência

Em seu dia

E dobramos

Para

Saber

Que

Sentido

Esta

Sucuri

De palavras

Jogadas

Ao ralo

Do

Pantanal

Terá

Pois é

Não é?

Dobrados

Estamos

Braços

Pernas

Colunas

Costelas

Pulmões

Corações

e

Línguas.

Sinos dobram.

Cálculos dobram.

Pares e ímpares.

O dobro

É uma parceria.

Dobrados

Você, eu,

Eu e você.

Fomos

Dobrados

Pela

Necessidade

Do fim

Que há

Em

Qualquer

História.

E,

Duvido,

Depois

De tanta

Dobradura

Alguém

De

Nós

Sentirá

Alguma

Saudade.

Nem mesmo

Pela metade.