Quando foi que o riso se foi?
A vida era simples:
de manhã o sol nascia,
à tardinha se escondia,
e reaparecia
sempre no outro dia,
e ao seu fim morria.
A vida era simples:
toda a gente sorria
quando na rua se via,
e ninguém se esquecia
do bom e velho bom dia,
havia ainda harmonia.
A vida era simples:
e a vida nos cabia,
a gente se espremia,
e a gente se mexia,
e a gente conseguia
fazer alguma poesia.
A vida era simples:
e quase ninguém sabia
que toda a gente dormia,
fosse noite, fosse dia,
enquanto o vilão urdia
roubar toda a alegria.
E agora a vida espia
toda a gente que expia
já à beira d’agonia,
por ter tido a desvalia
de crer a própria alforria.
E a vida era simples...
O sol inda nasce e morre,
mas quase ninguém percebe,
quem dormia inda dorme,
e a crueldade prossegue.
Hoje a vida mal nos cabe,
a poesia entristeceu,
quem não sabia inda não sabe,
e o sorriso esvaneceu...
6 de agosto de 2017