Guimarães Rosa

O barzinho perto da rodonãoviaria

Não tem nada

Apenas apresenta a loucura de um neném no braço

Vivo apenas

Vivo tudo isto e não consigo

Traduzir em palavras

Este pequeno sertão

Não tenho os neologismos de Guimarães

Não sou nem Rosa e nem Kerouac

Não sou

Nada

Vejo um vulto passar por traz de mim

Um cachorro pulguento

A dona do restaurante, mãe do neném

Está aflita

Quer fazer o almoço pra num sei de quem

Eu no meu kit

Caralho

Podia ser homossexual, como Ginsberg e uivar a queda de Urucuia

Podia ser Toninho Silva e uivar a extinção da corrupção

Mas entre a lógica e a realidade existem homens

Sapiens?

Sabia sabia assubia

Esgotamos todos os recursos do mundo

Cansamos este mundo fatigado

E eu também cansei

Quero voltar a estrada com Sá. Guarabira, Keriuac e Ginsberg

Batidas de panela as sete da noite

Não são exatamente o som do jazz

E nem do rock rural

Não são nenhum som

Entrecortes servidos nos restaurantes da Paulista

Baby beef não aplacam a nossa fome

Não nos fazem mais brilhantes

Cansei do púlpito da igreja evangélica

Urucuia, a cidade e o rio se despedadaçando

Milhares de pivôs

Robores, transformers nos amedrontando

Milhares de rigotes

Que vêem somente

Aquilo que só vamos ver a cem anos

A destruição

Bem, voltamos à estrada poeirenta até São Francisco

Nenhuma estrada nos leva ao coração de Urucuia

Nenhuma artéria

Somos safenados

Urucuia só existe no coração de cada bêbado

Em cada triste habitante

Em cada zumbi tomando café da manhã na frente da casa poeirenta

O mundo parou aqui e esqueceu de prosseguir

Esqueceu de mandar água

Universo sem água

A frescura de um corpo jovem e nu

No abandono de uma vida vida que foi abandonada ao pó

Morro várias vezes

Não consigo soletrar Grande Sertão

Uai

Queria ser Ginsberg, ou pelo menos Graciliano

Mas eu sou muito mais

Sou matuto

Passo ao lado deste toda esta revolução de iphones e wifis

E ouço o ranger das rodas dos carros de bois

Uuuolllh

Ooollhhha

Aaaaiiiiii

Deus quer me parar

Tem medo que eu revele o segredo da vida

Buceta

Podia ter sido traficante

Ser preso e setenciado na Tailandia

Pena capital

Podia ser pastor de uma igreja evangélica

Ou de uma seita

E anunciar como Jim Jones a ressurreição dos fiéis

Mas prefiro a magia da folia de reis

Pois entre a fantasia e a ficção

Estamos nós, homem, animal.

Sapo com a boca costurada.

Fabio do que?

Vamos vivendo

Nos odiando e sorrindo

Dois vivas para a rede Globo

To o pique agora

Quero ser Luciano Hulk e Faustão

Batidas de punheta pelas dançarinas

Não compõe um samba

Mc Donalds na veia

Geração e vida merda

Imaginei Urucuia como a minha noiva

Cheiros, pura e linda

Como me apresentou padrinho Guimarâes

Mas no meio da festa de casamento

Olhei os convidados

Na eram de Guimarães

E eu tentando realizar este casamento

Sonhando com as veredas que ainda existem

E sonhando com aquilo que temos de melhor

Ser brasileiros do norte de Minas

Geraes