APESAR DA TELA
Quando parecia morta
quando parecia não haver mais nada
quando todos, de olhos presos, bem presos na tela brilhante, não viam mais nada
quando o pó e o vento e a estrada vazia
quando a própria monotonia
tomavam conta das coisas
quando o óbvio era a matéria do dizer
e do pensar dos homens
quando tudo isso já era certo e inteiro
como decreto e lei e ordem e norma
dedo indicador, palavra cadeado, silêncio...
a poesia
esgueirando entre escadas e guetos,
serpenteando entre pescoços e sussurros,
mostra vida apesar da tela...