Cântico De Mim Mesmo
Cântico De Mim Mesmo
Perguntam-me quem sou,
Respondo-lhes:
Sou o poeta,
Que, como Marc Twain,
Desceu à Terra com o Haley,
E, com o mesmo Haley, regressará,
Ao desconhecido círculo do infinito.
Sou o homem de Deus,
E do Povo,
Vocábulos que, para mim,
São quase sinônimos.
Faço dos triunfos e desígnios de Deus,
Das mazelas e sonhos do Povo,
Combustível para a minha arte,
E da inspiração,
Que aos Dois pertence,
A energia que anima meu espírito.
Sou um inimigo declarado da inércia,
Um amante incondicional da liberdade,
Um inerme que a todos arma,
E um fraco que a todos fortalece,
Com idéias e versos.
O mudo,
Que, aos demais,
Fornece a voz.
E o cego,
Que, aos iguais,
Indica a luz.
Sou o casebre e o palácio,
O pedinte e o opulento,
O vagabundo e o incansável.
O monge e o ateu,
O transcendental e o materialista,
O anjo e o demônio.
A introspecção e a expancividade,
A genialidade e a loucura,
O impulso e o equilíbrio.
A dona de casa e o grande empresário,
O lavrador e o executivo,
O sitiante e o latifundiário.
O campo e a cidade,
A simplicidade e a erudição,
O universo e a província.
Sou aquele que, entre os homens,
No refúgio dos ermos se exila,
O mesmo que, em meio aos ermos,
O convívio dos homens busca.
Sou o típico homem da fronteira,
A transitar sem medo,
De lira ao colo,
E espada em punho,
Entre os brumosos labirintos da perdição,
E os portais brilhantes da redenção.
Sou, enfim,
O exilado perpétuo,
O incompreendido nato,
Um realista frio,
E um idealista confesso.
O criador imperfeito,
Profeta dissoluto,
Semeador incessante,
Disperso em divina essência,
E envolto em carnais roupagens.
De quem o Amor é causa,
E a verdade, conseqüência.
Hebane Lucácius