Não conto para vocês para que não percam o sono
O que pode produzir um coração magoado,
Um poeta embalado por um coração magoado,
Dedos inertes jogados à mesa,
Papel distante, caneta vazante,
Lápis com ponta quebrada...?
O pensamento não toma forma,
está em ebulição, se evaporando,
e as certezas todos se escondem,
se dissipam como a madrugada diante do sol...
A dúvida é a unica condutora deste momento,
e a razão que ele tece não tem razão nenhuma,
mas é aquilo que me guia neste momento,
em que todo silêncio é por demais pesado,
mas qualquer grunhido poderia ser um grito de terror...
As lágrimas evaporam antes de se formarem,
e densas nuvens de tristeza tisnam o céu de minha mente,
o caminho acabou de repente,
e a estrada se desfez,
fiquei só, a beira do abismo ruminações antepassadas...
São fantasmas com meu rosto,
Eles se estorcegam travando os dentes
com os olhos cheios de veias...
Não podem falar,
Apenas seus excruciantes gemidos chegam a mim,
E a comunicação que trazem é de petrificar o coração...
Não queiram saber, amigos, não queiram se perder onde não me encontro...
Vi que Fernando Pessoa era só,
E o seu pensamento tomou vida,
Era ele noutra vida diferente,
Era ele querendo entender a ele mesmo, sendo outros...
Mas isso não vai acontecer comigo,
Porque minha reflexão sobre mim são agonias silenciadas,
como essas que vejo da beira do abismo,
e que não conto para vocês para que não percam o sono...
O sono,
essa porta,
essa porta para os mundos que além há...
Meus amigos, o que pode vim de um coração magoado?
Eu não sei,
Estou com as duas mãos e o ombro segurando a porta com a cabeça,
não sei o que vem lá,
mas me procura derrubar e sair pela garganta,
como um choro,
não de quem nasce, amigos, mas como de quem se agoniza e morre,
e não morre,
não morre nunca...